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Porque as suas emoções mais intensas podem também ser suas piores inimigas

Pessoa folheando caderno em branco.

Ninguém gostaria de viver em uma casa com as paredes e móveis brancos, sem nenhuma decoração, música ambiente ou sinal de vida. Talvez morar num país cujo céu é nublado durante a maior parte do tempo e não chove se torne tedioso muito rapidamente. Do mesmo jeito, se sentir neutro ou indiferente a maior parte do tempo não é um estado ideal, e frequentemente motiva pessoas a buscar mudança, conexão, novidade. O outro extremo, no entanto, pode ser comparado a tentar ficar em pé em uma prancha enquanto o mar está revolto: é fácil perder o equilíbrio e a direção.


Estou sentindo! Mas como eu sei o que, exatamente?


O que sentimos em relação aos acontecimentos e situações da vida depende sempre do significado que eles têm para nós, assim como o nível de intensidade que esses sentimentos aparecem. O cheiro ou a fotografia da mesma pessoa podem causar sensações completamente opostas a depender de quem essa pessoa foi para duas pessoas que pensam diferente a seu respeito, e não é difícil pensar em exemplos de alguém que gostamos e ouvimos dizer que outra pessoa não, ou vice-versa. Porém, independentemente de qual emoção estamos sentindo, quanto mais intensa ela for, mais influencia a nossa disposição e os nossos comportamentos.



Para a maior parte das pessoas, um sentimento fácil de identificar e descrever desse jeito é a fome: geralmente acontece no mesmo lugar no nosso corpo, um vazio na barriga, barulhos vindo do estômago, o impulso para comer qualquer coisa ou algo específico. Por ser geralmente bem conhecida, também é fácil saber que ela está ocorrendo e o que queremos fazer em relação a ela (tolerá-la pelo bem da dieta, encerrar uma conversa ou atividade para saciá-la, etc). O que varia mais de pessoa para pessoa é o efeito que ela tem no humor, variando entre irritabilidade, raiva, tristeza, surpresa, etc. Mas nem todas as emoções são tão claras e tão 'honestas' assim.



Bebê com mãos e pés no chão

Aprendemos a perceber o que estamos sentindo desde cedo, em situações em que alguém que está prestando atenção em nós (geralmente os cuidadores) vê algo acontecendo que causou um efeito e nos mostra a relação entre essas duas coisas: quando criança, você cai do sofá, bate a cabeça, sente o impacto e a estimulação dos receptores da pele, e sem controlar, chora.



Sua mãe, que viu a queda e veio correndo, procura algum machucado sério, não encontra, dá um beijinho e diz ''Tá doendo, né? Shhh, vai passar''. É aí que você descobre que essa sensação ruim e intensa se chama dor. Esse mesmo processo vai ficando cada vez mais complicado a depender do quão difícil é ligar a emoção a uma causa: é muito mais difícil perceber por que ir mal numa prova da escola fez seu filho chorar se os pais não estavam presentes na sala de aula, quando todos os outros alunos disseram que a prova estava fácil de mais.



Assim, vamos ficando mais habilidosos em perceber algumas emoções e outras passam batido, a depender de muitos fatores, como o quanto as pessoas ao nosso redor sabiam/sabem identificar emoções, se as causas das emoções são fáceis ou muito difíceis de perceber, se perceber e expressar essas emoções nos ajudou/ajuda a lidar com elas, etc. Chegamos então na vida adulta, e, se você chegou até aqui, com alguns pontos de interrogação e insatisfações sobre esse assunto.


Como melhorar a minha inteligência emocional?


Mesmo que exista algum déficit significativo nessa habilidade, que vamos chamar aqui de inteligência emocional, é parte do desenvolvimento de todo mundo ter que aprender a perceber e lidar com emoções ao longo da vida. Crescer e envelhecer nos faz emocionalmente mais complexos, conforme nosso cérebro vai mudando de acordo com o estágio de nossa vida e das experiências que passamos, o que significa que em qualquer idade e mesmo que seja difícil, sempre temos a capacidade de desenvolver essa inteligência.



Usando a definição comum de inteligência como a capacidade de processar e resolver problemas, podemos pensar na sua modalidade emocional como a medida em que uma pessoa consegue perceber o que sente, tolerar esse sentimento e agir de forma significativa e consciente em relação a ele. Falamos do primeiro componente e como ele muda com o tempo, seu papel é o de oferecer clareza do que está acontecendo com o nosso corpo e a nossa mente.



A segunda parte da inteligência emocional, a tolerância, está relacionada com não ''ser refém'' de como estamos nos sentindo, agindo apenas de forma impulsiva: é o respiro fundo ao sentir muita raiva de alguém para não dizer algo estúpido em resposta (claro, a depender da situação, a maneira significativa de agir pode ser exatamente dar voz à emoção da vez). Quanto mais a emoção é intensa, mas difícil é conseguir pisar no freio quando você sente que um acidente está prestes a acontecer: tolerar a ansiedade por não conversar com a pessoa amada é diferente quando você tem uma novidade boa para contar mas ela está no trabalho e quando aconteceu uma briga e ela pediu alguns dias para pensar e tomar uma decisão. Exercícios de mindfulness e meditação são famosos por ensinar a mente a se perceber ao invés de reagir.



Isso não se restringe a emoções desconfortáveis como ansiedade, tristeza ou solidão, mas até a felicidade! Se após uma discussão em que um parceiro foi extremamente insensível com o outro, lhe entrega presentes e flores, pode ser que a felicidade e gratidão em recebê-los seja uma distração para conversar sobre o problema em questão. Por serem intensas, as emoções podem fazer com que lhe demos a razão naquele momento, mesmo se arrependendo depois.



Grupo de jovens sentados conversando num píer

É aí que a terceira parte entra em jogo, que depende dos nossos valores. Após a percepção e a tolerância em relação o que sentimos, é hora de decidir o curso de ação que importa: expressar o sentimento, fazer demandas, ou mesmo não fazer nada. Essa decisão deve levar em consideração muita coisa, mas no final do dia, é sua, então precisa estar apontando pra mesma direção que a sua vida quer seguir, ainda que seja difícil.



Saber o que faz a sua vida valer a pena ser vivida, desenvolver a tolerância e resiliência para sentir emoções (as boas e as desconfortáveis) e conhecer melhor como elementos da sua vida te afetam e o que fazem você sentir são todas habilidades que a terapia foca. Não só proporcionando clareza a respeito dos acontecimentos, mas providenciando um espaço pra tudo isso ser praticado e aperfeiçoado. Se você gostaria de desenvolver mais a sua inteligência emocional, não deixe de marcar uma sessão e me dizer qual é a emoção que fala mais alto pra você!





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